terça-feira, 8 de outubro de 2019

Cidade de contrastes

 


O lugar é a mistura entre o silêncio e o ruído: o silêncio de quem espera, de quem sofre; o ruído de quem trata, de quem cura…

O lugar tem o cheiro da doença, da morte. Percebe-se em alguns o olhar ausente, os corpos deformados, o fim da linha...

Eu olho esses rostos assustados que procuram nos meus olhos a esperança que lhes falta, a palavra que conforta, a decisão que tarda.

Palavras desconexas, confunde-se o tempo e o lugar… piedosa inconsciência…

Pessoas que foram, fizeram e sonharam. Que apesar de tudo e tanto, estão sozinhas no espaço da doença, na dor e no desespero.

Saio é noite e na rua percorro a cidade rumo a casa. Aqui a vida fervilha, caminha, vive as emoções e a esperança...

Jovens e menos jovens se reúnem, autónomos, capazes.

A vitalidade nos corpos e nas vozes, a saúde.

Aqui o mundo ainda é um lugar de ilusões.

Quem sabe amanhã…

quinta-feira, 13 de junho de 2019

Prostituir a essência


Sendo o corpo pertença de cada um, cada um faz dele o que bem entende. Não esquecer, porém que o que se faz ao corpo faz-se à mente, à alma, ao espírito, no fundo à nossa essência que é aquilo que somos, independentemente dos nomes que nos damos. Quando aviltamos o corpo, aviltamos sem dúvida a essência que nos coloca acima dos animais irracionais.

Vive-se num tempo em que se quer experienciar exaustivamente os prazeres sensoriais, usando para tal tudo o que possa potenciar os sentidos. Já quase não se pondera a diversão sem a presença do álcool, da droga, do tabaco, de medicamentos e cedo ou tarde esses maus tratos ao corpo virão como danos maiores à mente.

Pese embora, a progressão do ser humano que já se aprimorou relativamente ao tempo em que matava para sobreviver, ainda está bem longe daquilo que seria razoável nos tempos actuais.

Prostitui-se o corpo de variadas formas: na entrega por compensação económica; quando consome substâncias que potenciam sensações, inibições, alienações. Maltrata, fragiliza quando não respeita as necessidades de descanso, de higiene, quando por questões estéticas vai a sacrifícios desumanos, alimentação deficiente, uso de substancias químicas para atingir a pseudo perfeição.

Duvido que não haja um rasgo de consciência a alertar para as consequências futuras e tenho a certeza de que todos os excessos irão aparecer mais tarde sobre a forma de transtornos emocionais e ou mentais.

Porque o corpo é a casa onde vivemos enquanto pessoas, maltratar essa casa é prostituir quem somos. E nós somos, a soma de todos os sentidos, que entram na equação do nosso bem-estar e da nossa sanidade mental. Respeitar o nosso corpo é respeitar a nossa essência e essa é a parte mais importante de nós."


quarta-feira, 30 de janeiro de 2019

A saúde precisa de tratamento!

Quando a medicina é um negócio, os hospitais empresas, com um orçamento a cumprir é quase inevitável que os médicos, queiram ou não, se transformem em economistas e ao invés   de irem ao encontro do doente e das suas necessidades estão mais preocupados em diminuir as despesas dos hospitais, ignorando os direitos dos que pagam para ter acesso a uma saúde digna.

Parece-me estar subjacente uma intenção maliciosa por parte de quem gere os assuntos da saúde. Por um lado, empurra os utentes para o privado, muito embora continuem a descontar a parcela da saúde, por outro, quem sabe, justifica a eliminação do SNS a médio prazo.

Aos poucos manipula-se a opinião pública, obrigando os doentes a procurar soluções urgentes quando a saúde é urgente (os que podem). Os que não podem, limitam-se a esperar conformadamente por uma saúde lenta e tantas vezes tardia.

A minha médica do SNS defendia há dias que preferia apostar na prevenção, mesmo sendo criticada por mandar fazer muitos exames. Dizia que era mais feliz ao salvar um doente pela prevenção do que lhe ao dar-lhe o melhor conforto na doença…

Num país ideal, com governantes verdadeiramente inteligentes deveria ser assim, mas também entendo que o negócio da saúde tem que servir a muitos senhores… até aos senhores das funerárias…