sábado, 29 de janeiro de 2022

Portugal à beira mar espantado


Fátima Rodrigues mariafatima.rrodrigues@gmail.com

Nov 3, 2021, 4:21 PM
to leitor

Portugal é pequeno em muitas coisas e ainda longe do desenvolvimento ideal em muitas áreas, porém no que toca à corrupção, estamos nos níveis mais sofisticados no que se refere a surripiar aquilo que é de todos e que numa sociedade dita evoluída deveria servir para colmatar as situações de maior carência, nomeadamente a saúde e a educação.

A cada passo saem à ribalta escândalos de crime financeiro, com nome, morada e NIF, mas fazendo um balanço dos últimos 10 anos de nomes que estiveram na berlinda por lesarem diversas instituições e por inerência a todos os cidadãos, poucos foram ainda acusados, presos, ou que devolveram aquilo que foi roubado a todos nós.

Custa-me aceitar como neste país é tão difícil punir os ricos enquanto que aos menos favorecidos não há qualquer constrangimento em privá-los, por vezes daquilo que é essencial para uma vida digna. Ao mesmo tempo também sei que tudo tem a ver com a capacidade ou não  de pagar uma boa assistência jurídica.

A máquina fiscal, quando se trata do cidadão anónimo a contas com a justiça, rapidamente congela aquilo que são os seus rendimentos ou património de modo a garantir o montante da dívida e em múltiplas situações montantes bem acima desse valor, congelando ao mesmo tempo a vida das pessoas que ficam impedidas de gerir os seus bens para além dos valores da sua responsabilidade.

Pena que não se dê a estes o mesmo benefício da dúvida que se dá aos outros, a quem é permitido todo o tempo do mundo para sonegar, vender e esconder a fortuna usando a maquilhagem financeira que aprendem no decorrer do percurso profissional.

Independentemente de toda a estratégia usada para esconder aquilo que é roubado ao erário público, o que não entendo mesmo é como, não são reversíveis por lei todos os negócios feitos nesse sentido desde e durante todo o processo de investigação.





 

terça-feira, 25 de janeiro de 2022

O dia em que o mundo descomplicou (título original)

 

Todos, por entre o tempo que vivemos agora, tivemos um dia em que cada um, à vez, tomou consciência da fragilidade da vida e da sua finitude a qualquer momento. 

Obrigamo-nos a equacionar o que é importante, pois de repente já não estão garantidos os afetos, tão pouco o dia de amanhã. 

De repente também, ficamos sem certezas sobre o emprego, suporte da nossa qualidade de vida. 

Para sobreviver ao perigo que espreitava em cada canto, deixaram de ser as nossas regras, os nossos dias apressados; passaram a ser as regras de quem manda, num confinamento obedecido. 

A urgência da profissão perfeita, do corpo perfeito, da vida perfeita, foram secundarizadas pela manutenção da saúde e viabilidade de ficarmos por cá mais algum tempo. 

Percebemos que todo o poder e todo o dinheiro não compravam a solução que tardava em chegar. 

Nunca tantos com tanta autoridade tiveram de obedecer a tão poucos que ditavam as regras que nos mantinham em segurança. 

Dos céticos aos mais avisados, todos tivemos um dia em que o mundo, simplesmente   descomplicou e tudo reduziu à manutenção da vida. 

18.04.2020